Inspiro sofregamente e volto à vida. Uma dor excruciante percorre-me as costelas e ao tentar mexer-me não consigo. Puxo os braços e as pernas com as forças que me restam mas estão presos, tento outra vez e sinto os pulsos e os tornozelos a arderem, a pele a rasgar. Quando finalmente consigo acomodar a retina à escuridão vejo que estou no que parece ser um armazém. O gotejar incessante de água com o cheiro a mofo e a fossa dão-me a volta às entranhas trazendo-as para fora. Fico com o sabor a bílis na boca. Não me recordo da última vez que comi, mas não me sinto fraca, a dor fortalece-me e recria o tempo e o espaço onde habitei por demasiado tempo, puxo mais uma vez os braços com força para sentir a carne a abrir. Saboreio com vontade o sangue que me escorre pelos lábios. É mesmo verdade, somos um saco de carne e sangue, ossos e podridão. Deste-te a muito trabalho para me aterrorizares mas o que não sabes é que pelo contrário tornas-me mais forte.
Não grito, não esmoreço, só penso que podias ter feito melhor...

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