O Vendedor de Passados









Este pequeno livro já habitava na estante há algum tempo, mas só agora “o descobri”. É ao longo das suas páginas que José Eduardo Agualusa nos vai contar a história de Félix Ventura, um albino que vive em Angola e que dedica a sua vida a vender passados mais gratificantes a quem ele recorre.”Dê aos seus filhos um passado melhor.” é o que se encontra inscrito nos seus cartões de visita.
Félix vai percorrer esta história acompanhado de Eulálio, uma osga que em tempos foi homem e que assiste à vida da casa, às reuniões com os homens que desejam ter um passado ilustre, ou apenas uma história de “um homem comum”.
Ao longo do livro somos confundidos com o sonho e a realidade, através da mistura de factos históricos com a ficção, resultando disso uma perspicaz sátira à sociedade angolana.

“ A realidade é dolorosa e imperfeita , é essa a sua natureza e por isso a distinguimos dos sonhos. Quando algo nos parece muito belo pensamos que só pode ser um sonho e beliscamo-nos para termos a certeza que não estamos a sonhar- Se doer é porque não estamos a sonhar. A realidade fere, mesmo quando, por instantes, nos parece um sonho. Nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo o que realmente existe. Entre a vida e os livros, meu filho, escolhe os livros.”


“ Existem pessoas que revelam, desde muito cedo, um enorme talento para a desventura, a infelicidade atinge-as como uma pedrada, dia sim, dia não, e elas recebem-na com um suspiro conformado, outras há, pelo contrário, com uma estranha propensão para a felicidade. Estas são atraídas pelo azul, aquelas pela embriaguez dos abismos(…)”


CLASSIFICAÇÃO: 4 *



José Eduardo Agualusa nasceu na cidade do Huambo, em Angola, a 13 de dezembro de 1960. Estudou Agronomia e Silvicultura em Lisboa. É jornalista. Viveu em Lisboa, Luanda, Rio de Janeiro e Berlim. É autor dos livros A Conjura (romance, 1988), Prémio Revelação Sonangol, A Feira dos Assombrados (contos, 1992), Estação das Chuvas (romance, 1996), Nação Crioula (romance, 1998), Grande Prémio de Literatura RTP, Fronteiras Perdidas (contos, 1999), Grande Prémio de Conto da APE, A Substância do Amor e Outras Crónicas (crónica, 2000), Estranhões e Bizarrocos, com Henrique Cayatte, (infantil, 2000), Prémio Nacional de Ilustração e Grande Prémio de Literatura para Crianças da Fundação Calouste Gulbenkian, Um Estranho em Goa (romance, 2000), O Ano Que Zumbi Tomou o Rio (romance, 2002), O Homem Que Parecia Um Domingo (contos, 2002), Catálogo de Sombras (contos, 2003) e O Vendedor de Passados (romance, 2004). As suas obras estão traduzidas para diversas línguas europeias.

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