Escritos Aleatórios






Nunca fui de grandes sentimentos ou afectos, aliás ao mínimo indício de demonstração de carinho, ficava incomodado e afastava o motivo de tal afeição desconstruindo-o até não restar nada.
Desde pequeno que me era dito que não fosse lamechas, carente, piegas, "pegajoso". Era sinal de fraqueza e um mau augúrio para o meu futuro, aquele de viver na ilusão de que o amor existia. 
Com o passar dos anos o objectivo era enfim conseguido, a minha pele tornara-se metal, os olhos vidro baço e o coração? Esse batia ao ritmo certo de um relógio suíço, sem a mínima emoção que o desacertasse. Uma máquina perfeita!
Enfim, há coisas que não mudam, mas há outras que nos mudam a nós.
Um dia ao percorrer o caminho diário habitual, notei que algo estava diferente. Algo luminoso sobressaía entre as ervas que nasciam na beira da estrada, e ao aproximar-me, encontrei-te a ti! Voavas esplendorosamente sem que as ervas daninhas te incomodassem, as tuas asas de pontilhado rendilhado mostravam-me tonalidades desconhecidas e batendo sem medo, conferiam-te a graça de algo transcendente. Borboleta disseste tu, à minha pergunta calada acerca do que serias.
A partir desse dia seguiste-me para todo o lado, e já não era mais metal o que me cobria mas eu próprio o casulo que te concebera.

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